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Era uma casa muito engraçada, com certas contas que "ninguém" pagava.
Alguns podiam dormir ali, porque os quartos eram fartos como os fatos sem apuração em que se metiam na calada da noite e no silêncio da contravenção.
Era uma casa de tradição, mas muito agitada pelos "movimentos atípicos" nas contas dos empregados e na cintura das meninas contratadas para dar um trato nas visitas espalhadas por debaixo dos tapetes.
Era uma casa muito tarada, onde a coisa púbica se eriçava enquanto a coisa pública era fatiada e loteada como abacaxi.
Não se podia fazer xixi, porque ou bem se urinava ou se comiam outras guloseimas apetitosas na casa escandalosa.
Além do mais, banheiro não havia ali, pois, se houvesse, perceberiam todos o cheiro de certas iniciativas de privada, já que as mãos bobas estavam muito bem enterradas sem licitação nos fundos da pensão.
Era igualmente uma casa sem recepção, onde os documentos eram conferidos com desatenção, tudo em desrespeito às boas causas das famílias em questão, normalmente as últimas a saber e em tom de pilhéria, como de resto os coitados encurralados pela miséria.
Era grande como uma dessas "casas grandes" cujo assoalho se assenta na senzala e o sinhozinho nos pescoços dos pretos abatidos pelo trabalho mais mesquinho.
Era uma casa muito queimada, onde os bombeiros concursados para salvar vinham apagar um fogo dos infernos nos diabos excitados em posições dantescas.
Era uma casa gigantesca, muito maior do que as minúsculas expectativas da maioria.
Era, além disso, uma casa muito vazia, de forma que nela as barrigas esfomeadas não precisariam se amontoar num único cômodo incômodo, dividindo os roncos, o cheiro e os piores desejos com que se esfregam nesses quartos de despejo.
Aliás, as melhores intenções eram dissipadas por quereres atendidos, conselhos vendidos e pelo vento dos ventiladores recondicionados, diante dos quais dançavam e se jogavam às gargalhadas o produto da contradição.Era uma casa de ocasião, alugada para dar um teto e um chão a quem queria um braço estendido sobre o patrimônio da população.
Era uma casa muito manjada, onde os palhaços riam da desgraça que grassava em torno do picadeiro; uma casa cheia de dinheiro, como as malas recheadas dos doleiros que viajam para Passárgada.
Era uma casa muito encantada, onde as mais ingênuas fantasias eram realizadas por fadinhas da pesada; uma casa muito falada, onde o sigilo não valia nada e a massa ignara era amassada como pizza de marmelada.
Era uma casa muito segura, onde a polícia não investigava quem entrava, mas fichava quem ralava, submetendo-os à escravidão dos funcionários usados para limpar a sujeira dos desencargos da traseira dos mandatários.
Era uma casa cheia de suspense, coberta de mistérios, acobertando adultérios e cantadas passadas como recados astutos entre executivos prostitutos.
Era portanto um tanto uma casa de campo, onde os jogadores faziam longos lançamentos contábeis com as boladas recebidas ou roubadas nas suas próprias áreas de conhecimento.
Era uma casa de areia e de cimento mas também era uma casa de sevícias e lamentos, onde os convivas viciosos choravam o leite derramado pelo meio dos seios esplêndidos das garotas em que mamavam.
Era uma casa muito amena, as encomendas podiam ser loiras, ruivas ou morenas, mas eram as verdes estrangeiras as preferidas pelos pais da pátria que caíam de quatro em comoção cívica.Era uma casa muito da cínica, como se fosse uma falsa casa de vila, em que verdadeiras mulheres dadeiras vinham providenciar aconchego aos políticos estressados, acostumados a fazer "aquilo" com os seus correligionários.
Era uma casa muito sacana, onde os bacanas faziam farra; uma casa de lobby, de hobby e também uma casa muito contente, pois quem chegava ganhava um presente para permanecer indiferente aos gemidos e tormentos que se ouvia, já que não eram de sofrimento, mas de pura alegria.
Era uma casa muito esquisita, uma casa maldita, onde as desditas eram abençoadas e as desfeitas celebradas com uísques importados por diplomatas de carreira em descontos de camaradas.As portas se abriam para a obscuridade e as janelas se fechavam por um conceito de fachada.
Era uma casa muito safada, hospedando peladas cuja hospitalidade deixava uns e outros a desejar ou, pelo menos, a querer conquistar mais do que deviam ou podiam transacionar.
Era uma casa muito invejada, pois até os que ficavam de fora daquelas paredes eram ouvidos com grampos de cabelo por agentes peludos em fraldas geriátricas, como na cultura dos velhos tempos da ditadura.
Era assim uma casa de "relacionamento", cuja maturidade era proibida para os menores de idade e de cem salários de provento.
Era uma espécie de casa branca, ou avermelhada, mas que amarelou e apodreceu...
Um dia a casa caiu, mas ferido ninguém saiu!No máximo uma escoriação, para que possam voltar, violar ou votar numa próxima eleição.
Era uma casa muito engraçada mesmo...
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