PUNTO DI VISTA
O novo espaço do ECCO!
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O psicoterapeuta Flávio Gikovate afirma que amor é o sentimento que temos por uma pessoa cuja presença nos provoca a adorável sensação de aconchego que perdemos ao nascer
Quem teve a oportunidade de ouvir Flávio Gikovate em suas inúmeras palestras e entrevistas, ou quem leu apenas um de seus 24 livros, sabe que ele discorre com muita propriedade sobre um tema que nunca perde a atualidade: o amor.
Não se trata de uma série repetida de idéias sobre um ideal romântico. Seu discurso é o resultado de muito estudo e de uma vivência que lhe permitiu conhecer bem de perto o que povoa o coração e a cabeça das pessoas. Falar sobre o amor, para ele, é falar do próprio homem, da vida. Ele afirma que sua carreira foi dedicada à luta pela liberdade e pela felicidade e isso nos revela um pouco sobre o homem Gikovate e seu indisfarçável desejo de compartilhar com o outro sua sede de sentido.
Quem teve a oportunidade de ouvir Flávio Gikovate em suas inúmeras palestras e entrevistas, ou quem leu apenas um de seus 24 livros, sabe que ele discorre com muita propriedade sobre um tema que nunca perde a atualidade: o amor.
Não se trata de uma série repetida de idéias sobre um ideal romântico. Seu discurso é o resultado de muito estudo e de uma vivência que lhe permitiu conhecer bem de perto o que povoa o coração e a cabeça das pessoas. Falar sobre o amor, para ele, é falar do próprio homem, da vida. Ele afirma que sua carreira foi dedicada à luta pela liberdade e pela felicidade e isso nos revela um pouco sobre o homem Gikovate e seu indisfarçável desejo de compartilhar com o outro sua sede de sentido.
Nesse momento, ele comemora o lançamento de seu último livro, Superdicas para ser feliz (Ed. Saraiva), além da 8a edição de O mal, o bem e mais além (MG Editores), mas poderia estar escrevendo em qualquer outro lugar do mundo, tomando seu lugar ao lado de escritores como Otávio Paz e Francesco Alberoni. O prestigiado médico, que possui em seu currículo mais de 8.000 pacientes ao longo de 40 anos de trabalho, falou ao PUNTO DI VISTA, via e-mail, do Instituto de Psicoterapia de São Paulo, nesta Capital.
PUNTO DI VISTA - Goethe possui um aforismo interessante: quando duas pessoas se sentem realmente felizes uma com a outra, de modo geral, cabe a suposição de que estão equivocadas. Provavelmente ele se referia às paixões e não ao sentimento de amor que alguém possa despertar em nós, visto que este último pressupõe a sensação de que, finalmente, encontramos nosso lar: é um sentimento que nasce, cresce, se transforma.
É possível equivocar-se quando se ama?
Gikovate - Acho assim: existem dois modos de amar. Um deles se baseia em encantamento por uma pessoa que é o oposto de nós (tímidos x extrovertidos; agressivos x panos quentes; egoístas x generosos; e assim por diante), o que depende de vários fatores, inclusive de uma precária auto-estima já que o amor deriva da admiração e admirar nosso oposto significa não estar muito bem conosco. O outro modo é por afinidades, que se estabelece de uma forma mais intensa e cheia de medos de todo o tipo, inclusive o medo da plena fusão romântica. Amor de boa qualidade (baseado em afinidades) + medo = paixão. O coração bate de medo. Se o medo se arrefece e as pessoas se acostumam com esta intensidade sentimental, então teremos alianças sólidas, estáveis e que provavelmente durarão toda a vida. Amor é o sentimento que temos por uma pessoa cuja presença nos provoca a adorável sensação de aconchego que perdemos ao nascer.
PUNTO DI VISTA - O ciúme é o tempero do amor. Contudo, quando este sentimento é delirante pode evidenciar um instinto reprimido de infidelidade.
Um amor pode sobreviver a uma traição, já que ela pode acontecer mesmo entre casais felizes?
Gikovate - Talvez o certo seja pensarmos em dois tipos de ciúmes: os de natureza exclusivamente sexual e aquele de natureza sentimental. O ciúme sentimental pode existir em relação a pessoas sexualmente inofensivas - a mãe pode ter ciúme da relação do pai com sua filha; irmãos têm ciúme da intimidade de cada um deles com os pais; cônjuges podem ter ciúme dos pais do marido ou esposa etc. O ciúme sexual pode estar relacionado com o risco efetivo de infidelidade, que é maior naquelas pessoas menos confiáveis. Pessoas menos confiáveis são as mais imaturas, as que lidam mal com frustrações e contrariedades. Pessoas menos confiáveis não suportam passar vontade de espécie alguma. Como regra, são pessoas mais egoístas. A infidelidade sexual masculina pode acontecer mesmo em homems mais maduros desde que eles considerem isso como fato natural, o que depende da cultura. Neste último caso, a infidelidade exclusivamente sexual prejudica pouco a vida sentimental dos casais.
PUNTO DI VISTA - Contam que Frank Sinatra comunicou à sua então esposa Mia Farrow que desejava divorciar-se através de um de seus assistentes, que lhe entregou em mãos a petição inicial assinada por ele. Se esta fosse uma relação de trabalho, diria que a atitude de Sinatra se enquadraria em um motivo para demissão com justa causa por parte da atriz. Posturas como essas fazem do divórcio um dos maiores detonadores do stress e da depressão. Por que é tão difícil mudar o paradigma de que a ruptura significa dor, mágoa, brigas intermináveis, dificuldade de comunicação?
Esses sentimentos já não são um reflexo de que a relação nunca esteve fundamentada no mútuo respeito?
Gikovate - O divórcio é uma questão complexa porque envolve a dor relacionada com a ruptura de um elo quase sempre desejado por apenas um dos dois cônjuges. As rupturas são sempre dolorosas porque elas nos remetem para as originais, especialmente para a relacionada com o trauma do nascimento, no qual a criança e a mãe são forçados romper a simbiose no qual a criança foi gerada. Além disso, existem problemas relacionados com a vaidade, por meio da qual aquele que é abandonado se sente, como regra, trocado por outra pessoa. Estamos diante de algumas das maiores dores a que estamos sujeitos: abandono e humilhação, o que, junto, provoca a sensação terrível de rejeição. Difícil de engolir! Dificílimo de digerir. Só o tempo - longo, medido em anos - pode atenuar uma espécie de gangorra que se forma entre os que se separam: saber que o ex está bem faz mal e saber que ele está mal faz bem.
PUNTO DI VISTA - Pascal diz que todo homem quer ser feliz, inclusive o que vai se enforcar. Se ele se enforca é para escapar da infelicidade.
Porque precisamos ter sempre a sensação da felicidade e ela, em geral, se traduz no encontro com o outro?
Gikovate - Nossa biologia pede que fujamos da dor e que busquemos o prazer. Isso é natural em todos os animais. Temos que fugir de todo o desequilíbrio sentido como desagradável: quando temos sede buscamos o prazer negativo de saciá-la com a ingestão de água - prazer negativo corresponde ao que nos tira da dor e nos leva ao ponto de equilíbrio, da homeostase; a expressão é de Schopenhauer. Um dos prazeres negativos é o amor, por meio do qual nos livramos da dolorosa sensação de vazio e desamparo que vivenciamos quando estamos sozinhos. Os prazeres positivos, que são os momentos de verdadeira felicidade, são relacionados com aqueles de natureza erótica (não precisam ser antecedidos por nenhuma dor) ou os de caráter intelectual (usufruto das delícias da música, das artes, do cinema, de uma boa conversa etc.) O pleno amor, aquele que costumo chamar de +amor ou mais que amor, corresponderia ao fato de encontrarmos um parceiro que nos aconchega, em quem confiamos e que é o nosso maior amigo, com quem gostamos de conversar todo o tipo de intimidades e ainda seja também um parceiro sexual legal. É isso que todos querem e é o que apenas uns 3-4% dos humanos tem coragem de ter como vivência conjugal.
PUNTO DI VISTA - Este é um espaço para que o entrevistado acrescente ou pondere algum tema que entenda relevante.
Gikovate - Meu empenho, ao longo destes 40 anos de trabalho como psicoterapeuta e dos 24 livros que escrevi (além de centenas de artigos e palestras), tem sido sempre o mesmo: ajudar as pessoas a se libertarem de crenças tradicionais que não têm nos levado à lilberdade e felicidade que sonhamos e tentar traçar as rotas da felicidade sentimental e da libertação dos espíritos das amarras conservadoras de todo o tipo.
Para saber maisHome » Punto di Vista » Uma luta em favor da liberdade e da felicidade
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UMA LUTA EM FAVOR DA LIBERDADE E DA FELICIDADEO psicoterapeuta Flávio Gikovate afirma que amor é o sentimento que temos por uma pessoa cuja presença nos provoca a adorável sensação de aconchego que perdemos ao nascer
Quem teve a oportunidade de ouvir Flávio Gikovate em suas inúmeras palestras e entrevistas, ou quem leu apenas um de seus 24 livros, sabe que ele discorre com muita propriedade sobre um tema que nunca perde a atualidade: o amor.
Não se trata de uma série repetida de idéias sobre um ideal romântico. Seu discurso é o resultado de muito estudo e de uma vivência que lhe permitiu conhecer bem de perto o que povoa o coração e a cabeça das pessoas. Falar sobre o amor, para ele, é falar do próprio homem, da vida. Ele afirma que sua carreira foi dedicada à luta pela liberdade e pela felicidade e isso nos revela um pouco sobre o homem Gikovate e seu indisfarçável desejo de compartilhar com o outro sua sede de sentido.
Nesse momento, ele comemora o lançamento de seu último livro, Superdicas para ser feliz (Ed. Saraiva), além da 8a edição de O mal, o bem e mais além (MG Editores), mas poderia estar escrevendo em qualquer outro lugar do mundo, tomando seu lugar ao lado de escritores como Otávio Paz e Francesco Alberoni. O prestigiado médico, que possui em seu currículo mais de 8.000 pacientes ao longo de 40 anos de trabalho, falou ao PUNTO DI VISTA, via e-mail, do Instituto de Psicoterapia de São Paulo, nesta Capital.
Para saber maisHome » Punto di Vista » Uma luta em favor da liberdade e da felicidade
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UMA LUTA EM FAVOR DA LIBERDADE E DA FELICIDADEO psicoterapeuta Flávio Gikovate afirma que amor é o sentimento que temos por uma pessoa cuja presença nos provoca a adorável sensação de aconchego que perdemos ao nascer
Quem teve a oportunidade de ouvir Flávio Gikovate em suas inúmeras palestras e entrevistas, ou quem leu apenas um de seus 24 livros, sabe que ele discorre com muita propriedade sobre um tema que nunca perde a atualidade: o amor.
Não se trata de uma série repetida de idéias sobre um ideal romântico. Seu discurso é o resultado de muito estudo e de uma vivência que lhe permitiu conhecer bem de perto o que povoa o coração e a cabeça das pessoas. Falar sobre o amor, para ele, é falar do próprio homem, da vida. Ele afirma que sua carreira foi dedicada à luta pela liberdade e pela felicidade e isso nos revela um pouco sobre o homem Gikovate e seu indisfarçável desejo de compartilhar com o outro sua sede de sentido.
Nesse momento, ele comemora o lançamento de seu último livro, Superdicas para ser feliz (Ed. Saraiva), além da 8a edição de O mal, o bem e mais além (MG Editores), mas poderia estar escrevendo em qualquer outro lugar do mundo, tomando seu lugar ao lado de escritores como Otávio Paz e Francesco Alberoni. O prestigiado médico, que possui em seu currículo mais de 8.000 pacientes ao longo de 40 anos de trabalho, falou ao PUNTO DI VISTA, via e-mail, do Instituto de Psicoterapia de São Paulo, nesta Capital.
PUNTO DI VISTA - Goethe possui um aforismo interessante: quando duas pessoas se sentem realmente felizes uma com a outra, de modo geral, cabe a suposição de que estão equivocadas. Provavelmente ele se referia às paixões e não ao sentimento de amor que alguém possa despertar em nós, visto que este último pressupõe a sensação de que, finalmente, encontramos nosso lar: é um sentimento que nasce, cresce, se transforma.
É possível equivocar-se quando se ama?
Gikovate - Acho assim: existem dois modos de amar. Um deles se baseia em encantamento por uma pessoa que é o oposto de nós (tímidos x extrovertidos; agressivos x panos quentes; egoístas x generosos; e assim por diante), o que depende de vários fatores, inclusive de uma precária auto-estima já que o amor deriva da admiração e admirar nosso oposto significa não estar muito bem conosco. O outro modo é por afinidades, que se estabelece de uma forma mais intensa e cheia de medos de todo o tipo, inclusive o medo da plena fusão romântica. Amor de boa qualidade (baseado em afinidades) + medo = paixão. O coração bate de medo. Se o medo se arrefece e as pessoas se acostumam com esta intensidade sentimental, então teremos alianças sólidas, estáveis e que provavelmente durarão toda a vida. Amor é o sentimento que temos por uma pessoa cuja presença nos provoca a adorável sensação de aconchego que perdemos ao nascer.
PUNTO DI VISTA - O ciúme é o tempero do amor. Contudo, quando este sentimento é delirante pode evidenciar um instinto reprimido de infidelidade.
Um amor pode sobreviver a uma traição, já que ela pode acontecer mesmo entre casais felizes?
Gikovate - Talvez o certo seja pensarmos em dois tipos de ciúmes: os de natureza exclusivamente sexual e aquele de natureza sentimental. O ciúme sentimental pode existir em relação a pessoas sexualmente inofensivas - a mãe pode ter ciúme da relação do pai com sua filha; irmãos têm ciúme da intimidade de cada um deles com os pais; cônjuges podem ter ciúme dos pais do marido ou esposa etc. O ciúme sexual pode estar relacionado com o risco efetivo de infidelidade, que é maior naquelas pessoas menos confiáveis. Pessoas menos confiáveis são as mais imaturas, as que lidam mal com frustrações e contrariedades. Pessoas menos confiáveis não suportam passar vontade de espécie alguma. Como regra, são pessoas mais egoístas. A infidelidade sexual masculina pode acontecer mesmo em homems mais maduros desde que eles considerem isso como fato natural, o que depende da cultura. Neste último caso, a infidelidade exclusivamente sexual prejudica pouco a vida sentimental dos casais.
PUNTO DI VISTA - Contam que Frank Sinatra comunicou à sua então esposa Mia Farrow que desejava divorciar-se através de um de seus assistentes, que lhe entregou em mãos a petição inicial assinada por ele. Se esta fosse uma relação de trabalho, diria que a atitude de Sinatra se enquadraria em um motivo para demissão com justa causa por parte da atriz. Posturas como essas fazem do divórcio um dos maiores detonadores do stress e da depressão. Por que é tão difícil mudar o paradigma de que a ruptura significa dor, mágoa, brigas intermináveis, dificuldade de comunicação?
Esses sentimentos já não são um reflexo de que a relação nunca esteve fundamentada no mútuo respeito?
Gikovate - O divórcio é uma questão complexa porque envolve a dor relacionada com a ruptura de um elo quase sempre desejado por apenas um dos dois cônjuges. As rupturas são sempre dolorosas porque elas nos remetem para as originais, especialmente para a relacionada com o trauma do nascimento, no qual a criança e a mãe são forçados romper a simbiose no qual a criança foi gerada. Além disso, existem problemas relacionados com a vaidade, por meio da qual aquele que é abandonado se sente, como regra, trocado por outra pessoa. Estamos diante de algumas das maiores dores a que estamos sujeitos: abandono e humilhação, o que, junto, provoca a sensação terrível de rejeição. Difícil de engolir! Dificílimo de digerir. Só o tempo - longo, medido em anos - pode atenuar uma espécie de gangorra que se forma entre os que se separam: saber que o ex está bem faz mal e saber que ele está mal faz bem.
PUNTO DI VISTA - Pascal diz que todo homem quer ser feliz, inclusive o que vai se enforcar. Se ele se enforca é para escapar da infelicidade. Porque precisamos ter sempre a sensação da felicidade e ela, em geral, se traduz no encontro com o outro?Gikovate - Nossa biologia pede que fujamos da dor e que busquemos o prazer. Isso é natural em todos os animais. Temos que fugir de todo o desequilíbrio sentido como desagradável: quando temos sede buscamos o prazer negativo de saciá-la com a ingestão de água - prazer negativo corresponde ao que nos tira da dor e nos leva ao ponto de equilíbrio, da homeostase; a expressão é de Schopenhauer. Um dos prazeres negativos é o amor, por meio do qual nos livramos da dolorosa sensação de vazio e desamparo que vivenciamos quando estamos sozinhos. Os prazeres positivos, que são os momentos de verdadeira felicidade, são relacionados com aqueles de natureza erótica (não precisam ser antecedidos por nenhuma dor) ou os de caráter intelectual (usufruto das delícias da música, das artes, do cinema, de uma boa conversa etc.) O pleno amor, aquele que costumo chamar de +amor ou mais que amor, corresponderia ao fato de encontrarmos um parceiro que nos aconchega, em quem confiamos e que é o nosso maior amigo, com quem gostamos de conversar todo o tipo de intimidades e ainda seja também um parceiro sexual legal. É isso que todos querem e é o que apenas uns 3-4% dos humanos tem coragem de ter como vivência conjugal.
PUNTO DI VISTA - Este é um espaço para que o entrevistado acrescente ou pondere algum tema que entenda relevante.
Gikovate - Meu empenho, ao longo destes 40 anos de trabalho como psicoterapeuta e dos 24 livros que escrevi (além de centenas de artigos e palestras), tem sido sempre o mesmo: ajudar as pessoas a se libertarem de crenças tradicionais que não têm nos levado à lilberdade e felicidade que sonhamos e tentar traçar as rotas da felicidade sentimental e da libertação dos espíritos das amarras conservadoras de todo o tipo.
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