By Raymundo Costa
Raymundo Costa é repórter
Raymundo Costa é repórter
especial de Política, em Brasília.
Texto extraído do Valor Online
Independente de ter vencido ou perdido o debate, Geraldo Alckmin levou o que foi buscar no confronto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na TV Bandeirantes. O candidato do PSDB ganhou a estatura de desafiante efetivo do favoritismo de Lula, arquivou a história do chuchu e deu um novo ânimo à militância tucano-pefelista, que começava a se desmobilizar após a passagem para o segundo turno. Até ex-ministros de Fernando Henrique Cardoso, que andavam sumidos, reapareceram ontem para defender os oito anos de governo do ex-presidente.
Alckmin demarcou território e ficou do tamanho de seu partido - desde o domingo, os tucanos prestam mais atenção nele. O PFL, que se ressentia de um discurso mais duro e inflexível contra o governo do PT, ontem já dizia que as queixas atualmente se resumem mais à relação entre os partidos que com o candidato. Os pefelistas não perdoam o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, por terem perdido a cadeira de senador pelo Ceará. O elogio comedido de Cesar Maia ao desempenho do tucano tem as estacas fincadas no mesmo terreno.
Alckmin era um candidato marcado para morrer. Foi escolhido pelos cardeais do PSDB para perder a eleição e adiar para 2010 a disputa interna, provavelmente entre José Serra e Aécio Neves. Ainda não virou cardeal, como FHC, Mário Covas, José Richa, Franco Montoro e Serra. Mas ganhou musculatura ao passar para o segundo turno (pelo menos para presidir o PSDB) e se agarrou à oportunidade oferecida pelo debate para se revelar como um oponente capaz de desafiar o mito da invencibilidade de Lula.
Os especialistas concordam que debate não ajuda ninguém a vencer eleição, mas ajuda a perder. Alckmin, aparentemente, aproveitou bem a oportunidade: aos tucanos disse que está no jogo; a Lula que, nesse jogo, não está para brincadeiras. Soa ingênuo o governo agora dizer que o discurso agressivo de Alckmin surpreendeu Lula - quem estuda pesquisas nas duas campanhas sabia que o eleitor já cobrava um outro estilo, uma atitude mais inflexível do candidato tucano, que no primeiro turno, com postura mais comedida, acumulou créditos para atacar no segundo turno.
A cada bloco do debate, o candidato era informado sobre a reação dos grupos de pesquisa qualitativa reunidos para comentar o duelo (Lula também tinha os seus). Uma central localizada em São Paulo reunia os dados e os transmitia ao publicitário da campanha, Luiz González. Foi orientado por essas informações que Alckmin acusou a "arrogância" do presidente. Os melhores momentos de Lula foram percebidos na cobrança da ausência de FHC e depois que ele "esqueceu o texto" e se soltou - mas aí a audiência do debate já era menor que a registrada nos blocos anteriores.
Pesquisas qualitativas orientaram candidatos
Alckmin se preparou para o debate. Lula parece ter subestimado o adversário. Os tucanos mal acreditaram quando o presidente repreendeu Alckmin por criticar a compra do Aerolula, quando o próprio governo de São Paulo dispunha de jatinhos. Estava desinformado. Alckmin vendera os aviões. Num debate, não se arrisca uma afirmação sem ter certeza da resposta do adversário.
Pode ser puro despiste, mas a campanha do PSDB avalia que o PT estará mirando o próprio pé se exagerar na afirmação segundo a qual, eleito, Alckmin venderá Banco do Brasil, Caixa, Petrobras e Correios. Os tucanos concluíram também que o presidente errou ao chamar a debate temas tipicamente paulistas, como a crise da Febem e as acusações contra um ex-secretário do Ministério da Saúde e do governo de São Paulo (Barjas Negri) que quase ninguém conhece.
Para os tucanos, ao atacar de frente a questão da corrupção no governo Lula e exigir uma explicação sobre a origem do dinheiro usado por petistas para a compra de um suposto dossiê, Alckmin deu um grande passo para consolidar voto junto a formadores de opinião que andavam meio arredios desde as trapalhadas pós-segundo turno.
Hoje, dizem, já não se fala do contestado apoio do casal Garotinho, sem uma costura preliminar com os principais aliados do Rio de Janeiro, a candidata ao governo Denise Frossard (PPS) e o prefeito Cesar Maia. A equação da vitória é conhecida, mas de solução reconhecidamente difícil: bem mais votos em Minas e no Rio, ampliar a diferença no Sul e reduzi-la no Nordeste. O voto de São Paulo é tido como cristalizado.
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