Lula promete acelerar o crescimento econômico, mas sai de férias.

Revista Isto é.
Por Octávio Costa e Lana Pinheiro
Enquanto isso,os governadores já pensam em grandes obrasde olho em 2010
Num 1º de janeiro chuvoso e de nuvens carregadas em Brasília, o presidente Lula fez promessas de sol para o futuro do País. No discurso de posse no Congresso, afirmou que os verbos "acelerar, crescer e incluir" vão reger o Brasil nos próximos quatro anos. E garantiu que vai "destravar" a economia, que se expandiu num ritmo medíocre, de apenas 2,6% ao ano, durante o primeiro mandato "um terço da média dos países emergentes. A única surpresa do discurso foi o batismo do plano que vem sendo engendrado em Brasília há mais de dois meses" e até agora não foi finalizado. Trata-se do pomposo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que deve ser anunciado no dia 22 de janeiro. "É preciso desatar alguns nós decisivos para que o País possa usar a força que tem e avance com toda velocidade", disse o presidente. A questão é que o discurso da "pressa" e da "aceleração" divorciou-se da prática.
Quatro dias depois da posse, Lula tirou duas semanas de férias. E esse exemplo foi logo seguido por vários ministros, incluindo Guido Mantega, da Fazenda, e Dilma Rousseff, da Casa Civil. Ou seja: todo o comando da economia, nas próximas duas semanas, estará nas mãos de técnicos de segundo escalão.Marcello Casal Jr/ABRO próprio PAC, por enquanto, é também uma incógnita. O pacote tem nome e data para ser lançado, mas pouco se sabe sobre seu conteúdo. O que não chega a surpreender. No interior do governo, o plano deu origem a divergências e até mesmo a defecções. O economista Carlos Kawall deixou a Secretaria do Tesouro Nacional insatisfeito com o excesso de "bondades fiscais" - uma das possibilidades é que seja substituído por Demian Fiocca, um fiel escudeiro de Mantega. Outro que está de saída é Bernard Appy, secretário-executivo da Fazenda, que defendia uma nova reforma da Previdência. Lula, porém, só admite mudanças nas aposentadorias a partir de 2011, depois do seu segundo mandato.
O que se espera, do PAC, é apenas um anúncio de mais investimentos em infra-estrutura e de incentivos fiscais aos setores de habitação e informática, além de uma mudança na lei que rege as aplicações dos fundos de pensão, estimadas em R$ 80 bilhões, para que eles possam financiar grandes obras. Mas as grandes divergências dizem respeito à questão fiscal. "Foi até bom o governo não acelerar o PAC porque, pelo jeito, ele só vai aumentar os gastos, comendo o superávit e piorando a dinâmica da dívida interna", ataca o economista Ilan Goldfajn, da PUC carioca. O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, advertiu que, se o PAC der sinais de desequilíbrio na área fiscal, o Banco Central terá de acionar instrumentos monetários - leia-se juros mais altos - que impeçam a volta da inflação. Como se vê, até mesmo nos mais altos escalões do governo, duvida-se da consistência do PAC.clayton de souza/agência estado/ae"Não basta anunciar um futuro glorioso. É preciso construí-lo"José Serra, governador de São PauloR$ 11 bilhões é quanto Serra quer atrair de empresas privadas para a área de infra-estruturaNão bastassem as dificuldades e indefinições, o presidente cumpre um mandato de oito anos. O que significa que acaba de entrar na segunda metade de seu governo - a metade final. Após quatro anos de crescimento pífio, a contagem regressiva do tempo agora conspira contra suas promessas. Muito mais confortável é a situação dos governadores.
Estes, sim, têm uma estrada aberta pela frente. Dois deles, por sinal, abriram a corrida sucessória. Quem assistiu à cerimônia de posse dos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, constatou que ambos já estão de olho nas urnas de 2010. Serra não perdeu tempo e foi direto ao ponto. "Vou governar voltado para o Brasil", afirmou, enfaticamente, ao discursar no Palácio dos Bandeirantes. Aécio respondeu. "Todo governador de Minas é um nome natural a ser examinado na sucessão do Planalto". Pelos próximos quatro anos, esses dois Estados servirão como vitrine para viabilizar a candidatura de um e de outro político. "Serra e Aécio sabem que são fortes candidatos e vão trabalhar muito para valorizar o seu passe", analisa o cientista político Cláudio Couto, da PUC de São Paulo.pedro silverado/ae" Minas é o Estado que mais crescerá nos próximos quatro anoso"aécio neves, governador de minas geraisR$ 104 bilhões são os investimentos empresariais programados para ocorrer em Minas até 2010Os trunfos de cada um virão da área econômica. Aécio garante que Minas será o Estado de mais forte crescimento nos próximos quatro anos.
E faz sua aposta depois de ter zerado o déficit fiscal do Estado - que era de R$ 2,4 bilhões em 2003 - e atraído investimentos bilionários nos últimos quatro anos. Agora, sua meta é iniciar o trabalho para elevar o Índice de Desenvolvimento Humano do Estado dos atuais 0,775 para 0,885 até 2020.
"O planejamento é transformar Minas ao melhor estado brasileiro para se viver", explica Wilson Brumer, secretário do desenvolvimento econômico. Na mesma toada, José Serra afirmou compromisso com crescimento e geração de emprego - e ainda alfinetou a ênfase do governo federal em programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família. "A emancipação verdadeira exige empregos para as famílias", disse ele. Serra promete atacar de frente os gargalos da infra-estrutura que o São Paulo apresenta.
E conta com a ajuda da iniciativa privada para conseguir o que quer. Dentre os projetos que devem sair do papel, está a ampliação do metrô, a duplicação da rodovia dos Tamoios, a ampliação das marginais, a construção do trecho Sul do Rodoanel, além de melhorias no Porto de São Sebastião. Parte dos projetos deve absorver mais de R$ 11 bilhões em recursos privados. "Serra é um workaholic e vai usar isso para se firmar como o mais forte candidato do PSDB" afirma a professora de ciências políticas da PUC-SP, Vera Chaia. "Já Aécio tem a aprovação popular, o carisma e a tradição familiar a favor".severino silva/agência o dia/ae" É de fundamental importância para o Rio manter boa relação com o governo federal"sérgio cabral, governador do rio de janeiroR$ 3 bilhões é a meta de corte de gastos no orçamento do Rio de Janeiro deste anoAo lado deles, movimenta-se o jovem governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Ele não tem interesse imediato na corrida presidencial, mas se oferece ao presidente Lula como uma estratégica ponte política no Sudeste, abrindo passagem entre Minas e São Paulo.
"É de fundamental importância para o Rio uma boa relação com o governo federal", disse Cabral, dias antes de negociar apoio das forças armadas para o combate à violência no Rio. Para Serra, porém, só resta manter a agressividade e atacar os problemas do governo federal. "Não basta anunciar um futuro glorioso para o povo brasileiro. É preciso construí-lo", disparou Serra, numa crítica velada ao PAC. "A política da pasmaceira em relação à nossa economia tem consagrado a mais perversa tendência depois de um século de prosperidade: a semiestagnação"!.
A largada para 2010 já foi dada.

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