As 32 equipas que vão participar no Mundial confrontaram-se com decisões tácticas não só no que respeita ao futebol, como também no que toca à altitude. Em sete dos dez estádios sul-africanos, os jogos vão ser disputados em altitudes que vão desde os 660 metros, na região agrícola de Nelspruit, e a mais de 1600 metros, em Joanesburgo.
As abordagens à aclimatação parecem variar tanto quanto a forma de jogar. Os Estados Unidos começaram a treinar no dia 17 de Maio na Universidade de Princeton, que fica a uma altitude de 30 metros. A Inglaterra vai preparar-se num campo na Áustria, a uma altitude de cerca de 730 metros, e a Itália vai reunir-se, em breve, na estância de esqui de Sestriere, a cerca de 1800 metros.
Equipas como a sul-coreana e a japonesa ponderaram recorrer a tendas e máscaras que simulam as condições atmosféricas nas altitudes. Outras (Austrália, Argentina e Brasil) parecem contar essencialmente com uma adaptação natural à altitude, antecipando a chegada à África do Sul três semanas antes dos jogos de abertura.
Pouca pesquisa tem sido feita sobre a preparação de equipas de futebol para jogos em elevadas altitudes, cujos efeitos variam de indivíduo para indivíduo.
impacto ou talvez não Jiri Dvorak, chefe da comissão médica da FIFA, a entidade gestora do futebol mundial, declarou, em Fevereiro passado, que a altitude "não é uma questão que venha a ter um impacto significativo na saúde ou no desempenho dos jogadores". Não obstante, as equipas consideram que tal facto vai ter influência, e até mesmo o videojogo do Mundial de 2010 licenciado pela FIFA leva em conta a altitude. A preparação é uma ciência inexacta, dizem os especialistas.
"Se formos ver, os especialistas em altitude que dispõem de experiência com jogadores de futebol não enchem os dedos de uma mão", diz Michael Davison, director do London Altitude Centre, que está a aconselhar a selecção inglesa e várias outras equipas. "Quando as equipas procuram aconselhamento junto da FIFA, esta declara que a altitude não é um problema. Ela não pode permitir que as equipas regressem e digam: 'Disputámos dois ou três jogos em altitude e aquela outra equipa fez apenas um jogo.' Todas as equipas têm de estar em pé de igualdade."
Em última análise, e na opinião dos especialistas em altitude, a maior parte das equipas não vão estar a fazer uma aclimatização nas condições mais adequadas. O que vão fazer é tentar encontrar um equilíbrio entre um treino físico e profissional rigoroso, um reforço do espírito de equipa, a realização de jogos de aquecimento em casa e a adaptação ao ar rarefeito nos estádios da África do Sul (à excepção daqueles que ficam ao longo da costa, na Cidade do Cabo, Durban e Port Elizabeth).
experiência nas confederações Os Estados Unidos vão disputar todos os jogos da primeira ronda em estádios situados em regiões elevadas: no dia 12, contra a Inglaterra, em Rustenburg (1500 metros de altitude); no dia 18, contra a Eslovénia, em Joanesburgo (1753 metros); e no dia 23, contra o Egipto, em Pretória (1214 metros). Os americanos jogaram nestas três cidades em Junho do ano passado, na Taça das Confederações. "A altitude não foi um problema assim tão grande", conta Landon Donovan, centro-campista. "E foi-se tornando mais fácil à medida que o campeonato foi avançando."
A selecção dos Estados Unidos chegou a ponderar a hipótese de realizar o treino de preparação para o Mundial de 2010, num campo de futebol de altitude na Europa. Contudo, após consultar o Comité Olímpico norte-americano (USOC), optou por treinar duas semanas na Costa Leste, ao nível do mar. Fizeram jogos de apresentação em Hartford (Connecticut) e em Filadélfia (Pensilvânia) e, no dia 30 de Maio, partiram para a África do Sul.
A vantagem dos treinos ao nível do mar é permitir que os jogadores treinem com muito empenho e recuperem rapidamente. Em altitudes mais elevadas, onde a pressão atmosférica é mais baixa e o ar menos denso, as moléculas do oxigénio ficam mais separadas e são mais difíceis de inspirar e de fazer chegar ao sistema vascular.
"Para que os jogadores obtenham uma boa preparação física, é preferível que o trabalho mais intenso não seja realizado em zonas de altitude", referiu Bob Bradley, treinador da selecção americana. "É necessário que treinem em altitudes onde possam puxar bem pelo corpo e recuperar devidamente."
No dia 31 de Maio, a equipa dos Estados Unidos chegaram ao seu campo-base, que fica situado entre Joanesburgo e Pretória, a cerca de 1450 metros. Os americanos tiveram cerca de duas semanas para se adaptarem à altitude - o período mínimo de tempo exigido para uma aclimatação efectiva, declarou Randy Wilber, psicólogo na USOC e especialista em altitude, que está a orientar a equipa.
os riscos Num jogo de futebol, os jogadores podem correr entre 10 a 13,5 quilómetros. Os efeitos da altitude fazem- -se sentir no aumento do ritmo cardíaco, na diminuição do aporte de oxigénio à circulação e na redução de energia. Segundo o London Altitude Centre, um atleta que participe no Estados Unidos-Inglaterra sem primeiro se adaptar à altitude, corre o risco de ver o seu desempenho reduzido dez por cento.
"Chegar à África do Sul uns dias antes do início do campeonato pode permitir que um jogador tenha um melhor desempenho numa atmosfera mais rarefeita, na medida em que o corpo tem tempo para começar a produzir mais glóbulos vermelhos para transportarem o oxigénio, e a capacidade respiratória de sofrer as necessárias alterações", comentou Randy Wilber.
Em Princeton, a saturação de oxigénio no sangue dos atletas norte-americanos será de 98 a 99 por cento, acrescentou. À chegada à África do Sul, poderá descer para 94 ou 95 por cento - mas poderia, inclusivamente, descer para 90 por cento ou menos, caso a equipa disputasse logo um jogo a sério. (Estava agendado um jogo de preparação contra a Austrália, no dia 5 de Junho.) De referir que uma redução no fornecimento de oxigénio pelos glóbulos vermelhos resulta numa diminuição de combustível para os músculos.
À medida que os jogadores se forem adaptando, os níveis de saturação de oxigénio deverão regressar aos 96 ou 97 por cento, esclareceu Wilber, sinal de que "a aclimatação foi positiva".
"live high, train low" Os Estados Unidos ponderaram utilizar o método "live high, train low" (dormir em altitude e treinar ao nível do mar), popular entre os corredores de distância. A teoria é que os atletas, ao descansarem e dormirem em altitude e fazerem treinos intensos o mais próximo do nível do mar, beneficiam de um aumento de oxigénio. Mas este plano exigiria que os jogadores passassem quatro ou cinco horas por dia dentro de um autocarro, contou Wilber, colocando em risco o tempo necessário à sua recuperação e o seu estado de espírito.
Wilber contou que a selecção dos Estados Unidos chegou a ponderar a hipótese de recorrer a tendas que simulam a atmosfera nas altitudes, mediante a utilização de um gerador para bombear ar com uma baixa concentração de oxigénio. Mas uma pesquisa efectuada revelou que os atletas, para poderem beneficiar do aumento de produção de glóbulos vermelhos, precisavam de passar dez ou mais horas dentro da tenda.
A Inglaterra também colocou de parte a hipótese das tendas. Não obstante, diz Michael Davison, os ingleses terão acesso a outro tipo de equipamento de simulação de altitude, produzido por uma empresa norte-americana, a Hypoxico, que está a fornecer várias outras equipas que participam no Mundial.
Este equipamento inclui máscaras de oxigénio que também recorrem a geradores para bombearem oxigénio diluído. Os japoneses vão usá-las todos os dias, durante uma hora, enquanto vêem televisão, disse o treinador Takeshi Okada. As máscaras também podem ser utilizadas nas passadeiras. A federação japonesa adiantou ainda que a selecção estava a usar uma sala onde o ar tem uma percentagem reduzida de oxigénio, para aí submeterem os jogadores a testes cárdio-respiratórios.
mexicanos habituados A federação sul--coreana informou ainda não ter decidido, na altura, se iriam optar pelas tendas ou pelas máscaras. O México, por seu turno, espera obter vantagem com o facto de os jogadores estarem habituados a jogar na Cidade do México, que fica a cerca de 2200 metros acima do nível do mar.
A França decidiu estabelecer a sua base na África do Sul junto ao nível do mar, o que, segundo referiu Davison, poderá "dissipar todo o efeito de treino de altitude" que a equipa terá obtido na estância francesa de esqui de Tignes.
O Inverno no hemisfério sul e o baixo teor de humidade também podem afectar o desempenho dos jogadores na África do Sul. Há equipas a planear colocar humidificadores nos quartos dos jogadores e a fornecer vacinas para a gripe. A situação, no entanto, poderia ser bem pior, se a prova fosse na Bolívia, lugar verdadeiramente infernal para as equipas visitantes, que têm de jogar a mais de 3300 metros de altitude. "Pelo menos não é La Paz", comenta Bob Bradley, agradecido.
As abordagens à aclimatação parecem variar tanto quanto a forma de jogar. Os Estados Unidos começaram a treinar no dia 17 de Maio na Universidade de Princeton, que fica a uma altitude de 30 metros. A Inglaterra vai preparar-se num campo na Áustria, a uma altitude de cerca de 730 metros, e a Itália vai reunir-se, em breve, na estância de esqui de Sestriere, a cerca de 1800 metros.
Equipas como a sul-coreana e a japonesa ponderaram recorrer a tendas e máscaras que simulam as condições atmosféricas nas altitudes. Outras (Austrália, Argentina e Brasil) parecem contar essencialmente com uma adaptação natural à altitude, antecipando a chegada à África do Sul três semanas antes dos jogos de abertura.
Pouca pesquisa tem sido feita sobre a preparação de equipas de futebol para jogos em elevadas altitudes, cujos efeitos variam de indivíduo para indivíduo.
impacto ou talvez não Jiri Dvorak, chefe da comissão médica da FIFA, a entidade gestora do futebol mundial, declarou, em Fevereiro passado, que a altitude "não é uma questão que venha a ter um impacto significativo na saúde ou no desempenho dos jogadores". Não obstante, as equipas consideram que tal facto vai ter influência, e até mesmo o videojogo do Mundial de 2010 licenciado pela FIFA leva em conta a altitude. A preparação é uma ciência inexacta, dizem os especialistas.
"Se formos ver, os especialistas em altitude que dispõem de experiência com jogadores de futebol não enchem os dedos de uma mão", diz Michael Davison, director do London Altitude Centre, que está a aconselhar a selecção inglesa e várias outras equipas. "Quando as equipas procuram aconselhamento junto da FIFA, esta declara que a altitude não é um problema. Ela não pode permitir que as equipas regressem e digam: 'Disputámos dois ou três jogos em altitude e aquela outra equipa fez apenas um jogo.' Todas as equipas têm de estar em pé de igualdade."
Em última análise, e na opinião dos especialistas em altitude, a maior parte das equipas não vão estar a fazer uma aclimatização nas condições mais adequadas. O que vão fazer é tentar encontrar um equilíbrio entre um treino físico e profissional rigoroso, um reforço do espírito de equipa, a realização de jogos de aquecimento em casa e a adaptação ao ar rarefeito nos estádios da África do Sul (à excepção daqueles que ficam ao longo da costa, na Cidade do Cabo, Durban e Port Elizabeth).
experiência nas confederações Os Estados Unidos vão disputar todos os jogos da primeira ronda em estádios situados em regiões elevadas: no dia 12, contra a Inglaterra, em Rustenburg (1500 metros de altitude); no dia 18, contra a Eslovénia, em Joanesburgo (1753 metros); e no dia 23, contra o Egipto, em Pretória (1214 metros). Os americanos jogaram nestas três cidades em Junho do ano passado, na Taça das Confederações. "A altitude não foi um problema assim tão grande", conta Landon Donovan, centro-campista. "E foi-se tornando mais fácil à medida que o campeonato foi avançando."
A selecção dos Estados Unidos chegou a ponderar a hipótese de realizar o treino de preparação para o Mundial de 2010, num campo de futebol de altitude na Europa. Contudo, após consultar o Comité Olímpico norte-americano (USOC), optou por treinar duas semanas na Costa Leste, ao nível do mar. Fizeram jogos de apresentação em Hartford (Connecticut) e em Filadélfia (Pensilvânia) e, no dia 30 de Maio, partiram para a África do Sul.
A vantagem dos treinos ao nível do mar é permitir que os jogadores treinem com muito empenho e recuperem rapidamente. Em altitudes mais elevadas, onde a pressão atmosférica é mais baixa e o ar menos denso, as moléculas do oxigénio ficam mais separadas e são mais difíceis de inspirar e de fazer chegar ao sistema vascular.
"Para que os jogadores obtenham uma boa preparação física, é preferível que o trabalho mais intenso não seja realizado em zonas de altitude", referiu Bob Bradley, treinador da selecção americana. "É necessário que treinem em altitudes onde possam puxar bem pelo corpo e recuperar devidamente."
No dia 31 de Maio, a equipa dos Estados Unidos chegaram ao seu campo-base, que fica situado entre Joanesburgo e Pretória, a cerca de 1450 metros. Os americanos tiveram cerca de duas semanas para se adaptarem à altitude - o período mínimo de tempo exigido para uma aclimatação efectiva, declarou Randy Wilber, psicólogo na USOC e especialista em altitude, que está a orientar a equipa.
os riscos Num jogo de futebol, os jogadores podem correr entre 10 a 13,5 quilómetros. Os efeitos da altitude fazem- -se sentir no aumento do ritmo cardíaco, na diminuição do aporte de oxigénio à circulação e na redução de energia. Segundo o London Altitude Centre, um atleta que participe no Estados Unidos-Inglaterra sem primeiro se adaptar à altitude, corre o risco de ver o seu desempenho reduzido dez por cento.
"Chegar à África do Sul uns dias antes do início do campeonato pode permitir que um jogador tenha um melhor desempenho numa atmosfera mais rarefeita, na medida em que o corpo tem tempo para começar a produzir mais glóbulos vermelhos para transportarem o oxigénio, e a capacidade respiratória de sofrer as necessárias alterações", comentou Randy Wilber.
Em Princeton, a saturação de oxigénio no sangue dos atletas norte-americanos será de 98 a 99 por cento, acrescentou. À chegada à África do Sul, poderá descer para 94 ou 95 por cento - mas poderia, inclusivamente, descer para 90 por cento ou menos, caso a equipa disputasse logo um jogo a sério. (Estava agendado um jogo de preparação contra a Austrália, no dia 5 de Junho.) De referir que uma redução no fornecimento de oxigénio pelos glóbulos vermelhos resulta numa diminuição de combustível para os músculos.
À medida que os jogadores se forem adaptando, os níveis de saturação de oxigénio deverão regressar aos 96 ou 97 por cento, esclareceu Wilber, sinal de que "a aclimatação foi positiva".
"live high, train low" Os Estados Unidos ponderaram utilizar o método "live high, train low" (dormir em altitude e treinar ao nível do mar), popular entre os corredores de distância. A teoria é que os atletas, ao descansarem e dormirem em altitude e fazerem treinos intensos o mais próximo do nível do mar, beneficiam de um aumento de oxigénio. Mas este plano exigiria que os jogadores passassem quatro ou cinco horas por dia dentro de um autocarro, contou Wilber, colocando em risco o tempo necessário à sua recuperação e o seu estado de espírito.
Wilber contou que a selecção dos Estados Unidos chegou a ponderar a hipótese de recorrer a tendas que simulam a atmosfera nas altitudes, mediante a utilização de um gerador para bombear ar com uma baixa concentração de oxigénio. Mas uma pesquisa efectuada revelou que os atletas, para poderem beneficiar do aumento de produção de glóbulos vermelhos, precisavam de passar dez ou mais horas dentro da tenda.
A Inglaterra também colocou de parte a hipótese das tendas. Não obstante, diz Michael Davison, os ingleses terão acesso a outro tipo de equipamento de simulação de altitude, produzido por uma empresa norte-americana, a Hypoxico, que está a fornecer várias outras equipas que participam no Mundial.
Este equipamento inclui máscaras de oxigénio que também recorrem a geradores para bombearem oxigénio diluído. Os japoneses vão usá-las todos os dias, durante uma hora, enquanto vêem televisão, disse o treinador Takeshi Okada. As máscaras também podem ser utilizadas nas passadeiras. A federação japonesa adiantou ainda que a selecção estava a usar uma sala onde o ar tem uma percentagem reduzida de oxigénio, para aí submeterem os jogadores a testes cárdio-respiratórios.
mexicanos habituados A federação sul--coreana informou ainda não ter decidido, na altura, se iriam optar pelas tendas ou pelas máscaras. O México, por seu turno, espera obter vantagem com o facto de os jogadores estarem habituados a jogar na Cidade do México, que fica a cerca de 2200 metros acima do nível do mar.
A França decidiu estabelecer a sua base na África do Sul junto ao nível do mar, o que, segundo referiu Davison, poderá "dissipar todo o efeito de treino de altitude" que a equipa terá obtido na estância francesa de esqui de Tignes.
O Inverno no hemisfério sul e o baixo teor de humidade também podem afectar o desempenho dos jogadores na África do Sul. Há equipas a planear colocar humidificadores nos quartos dos jogadores e a fornecer vacinas para a gripe. A situação, no entanto, poderia ser bem pior, se a prova fosse na Bolívia, lugar verdadeiramente infernal para as equipas visitantes, que têm de jogar a mais de 3300 metros de altitude. "Pelo menos não é La Paz", comenta Bob Bradley, agradecido.
Comentários